terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Formação do futuro jornalista

por Francisco Sogari



Como preparar o futuro profissional num cenário de crescente aumento da escala e da velocidade do fluxo da informação: planejamento, capturação, edição e difusão?


Vivemos um contexto de mudança plural no processo de estudo, produção e consumo de informação, envolvendo conceitos éticos, estéticos e técnicos. Segundo Milton Santos, o mundo vive uma globalização da rota do capital, com arranjos produtivos locais e cadeias produtivas tecnológicas que geram uma capilarização e polinização, que ele mesmo chama de motores de nova cognoscibilidade do planeta. Como isto impacta na formação dos futuros jornalistas?


Primeiro, a internet não pode ser considerada somente uma tecnologia, mas uma nova relação e novo comportamento que se estabelece entre o produtor e o receptor de informação. Isso muda a forma de estudar, produzir e consumir informação. A rede mundial de comunicação deixou de ser uma mídia complementar para tornar-se uma mídia autônoma e o ensino de jornalismo deve, necessariamente, incorporar esta mudança do paradigma de comunicação.


Os meios de comunicação que antecederam (rádio e tv) causaram um impacto significativo na teia comunicacional, mas não alteram substancialmente a essência do fazer jornalístico. A internet, ao contrário, mudou profundamente a dinâmica das mídias eletrônicas e, indiretamente, as impressas.A formação do futuro profissional de comunicação não pode reduzir-se a uma ou mais disciplinas específicas, como jornalismo on line ou novas tecnologias da informação.


Deve assegurar um equilíbrio entre base conceitual e histórica da comunicação e as novas temáticas emergentes, como Cibercultura, Websemantica, reportagem assistida por computador, linguagens midiáticas, redes sociais digitais, comunicação digital, cognição conectiva, etc. As técnicas do jornalismo, seja rádio, TV ou impresso adquirem nova dinâmica no processo de pesquisa, produção e veiculação da informação, gerada sobretudo pelas novas mídias.


O ciberjornalismo deve ser uma dimensão (um conceito transversal) que perpassa todas as disciplinas, sobretudo de ordem prática. Os meios de comunicação estão inseridos num ambiente de novas demandas informativas, novas tecnologias, de novas estratégias de apuração e de interação social. Por isso, o futuro jornalista deve estar preparado para produzir conteúdo em plataformas múltiplas. É o jornalista multimeios. Ele não pode ser um especialista em todas as áreas tecnológicas, mas deve conhecê-las para dar um direcionamento.


O novo profissional de comunicação deve procurar informação significativa, organizá-la de modo eficiente e apresentá-la de forma consistente ao seu interlocutor, que também é produtor. Afinal, o consumidor está mais informado e crítico. Além da captura da informação, do melhor ângulo ou do furo, o jornalista deve estar preparado para selecionar, re-significar a informação e torná-la acessível e agradável ao público leitor, que tem ao seu dispor um universo cada vez mais amplo e de fácil acesso.Pesquisa ampliada, do analógico ao digital.


O futuro jornalista deve dominar as técnicas da pesquisa em comunicação, sobretudo oriundas com o advento das tecnologias de busca. Ele não pode simplesmente ser um reprodutor de informações e releases, mas continuar a busca dos diferentes ângulos, cruzar informações, interpretar e analisar. A técnica ou o método da reportagem assistida por computador imprimem uma nova dinâmica no processo de produção e veiculação da informação. A produção compartilhada abrirá um novo modelo de produção de informação.


O postulante ao diploma de jornalismo vive num cenário de possibilidades de múltiplas versões, de ruptura com o discurso único e da ampliação da técnica de verificação, e eficiência na produção intermediadas pelo computador. As novas mídias, os blogs, microblgs e outras redes sociais tornaram-se um novo suporte para produção e difusão de conteúdos jornalísticos, gerando novas narrativas jornalísticas.


A internet gerou nos jornalistas, uma sensação de vigilância por parte do leitor. Não é mais um receptor passivo ou ator coadjuvante, como se fosse um recipiente vazio que recebe informações até transbordar, como ensina Paulo Freire. O novo receptor passou a ser produtor de informação. É fundamental que o futuro jornalista tenha a capacidade de análise das dinâmicas que permeiam as redes sociais, que muitas vezes, agregam e potencializam pautas. A internet além de criar um novo jornalismo, cria novos jornalistas. Tradicionalmente, o é um reconstrutor dos fatos, incorporou a tarefa de interpretar os acontecimentos, agora agrega outra função, que é interagir com as comunidades. Está inserido num mundo caracterizado pela capacidade discursiva das organizações e dos cidadãos. A comunicação deixou de transitar por um monotrilho, agora é multimeios e multivias.


Um dos diferenciais que caracteriza o novo jornalista é a cognição conectiva com os vários públicos que interagem com as novas mídias. Para isso, deve diferenciar-se com o desenvolvimento de habilidades e competências na elaboração de novos métodos para apuração, modelos de narrativa, técnicas de edição, sistemas de circulação e gêneros jornalísticos adequados ao entorno do ciberespaço. Por fim, é importante lembrar que temos em nossas mãos as ferramentas de comunicação mais poderosas da história, mas não podemos esquecer a essência da prática jornalística e necessidade de reinventá-las tanto nos aspectos técnicos, estéticos e éticos.
Francisco Sogari é professor de Jornalismo na Universidade Mogi das Cruzes