segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Falando de rádio com Haisem Abaki

por Ana Sasaki e Dione Lima



Entrevistamos o jornalista e radialista da rádio Estadão-ESPN Haisem Abaki que nos contou um pouquinho sobre sua vida no rádio e suas opiniões sobre o rádio e a tecnologia.

Natural de Mogi das Cruzes, Haisem estudou jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes. Foi apresentador e chefe na Rádio Bandeirantes, repórter, apresentador e editor na rádio CBN e também na rádio e no jornal Diário de Mogi. Atualmente leciona na UMC e trabalha na rádio Estadão-ESPN como apresentador do programa Estadão no Ar.



Cibertexto - Como você se interessou por rádio?

Haisem Abaki - Comecei a ouvir rádio ainda criança, com meu pai. No começo, não entendia muito bem as notícias que ele ouvia, mas aos poucos fui me interessando e fiquei fascinado ao pensar como alguém podia falar ali.

CT - No início, você achava que seria só por diversão ou sempre pensou em fazer pra valer, profissionalmente?

HA - Acho que um pouco das duas coisas, mas eu não tinha a noção exata do resultado. 

Queria apenas fazer rádio e aprender com pessoas que estavam na profissão há mais tempo e me serviam como referências.

CT - Como foi o início da sua carreira acadêmica e profissional?

HA - Comecei a trabalhar aos 15 anos, primeiro como office-boy e depois trabalhei no Judiciário como escrevente. Meu primeiro emprego em jornalismo foi aos 22 anos, em 1986, no último ano da faculdade na UMC. Meu professor de rádio, Nivaldo Marangoni, era gerente da Rádio Diário de Mogi e percebeu o meu interesse pelo rádio. No começo, fui lá para conhecer e fiquei acompanhando o trabalho. Pouco tempo depois surgiu uma vaga e, na mesma época, o jornal Diário de Mogi precisava de um repórter. Fiz um teste no jornal e passei. Então, comecei a fazer rádio e jornal ao mesmo tempo.

CT - Comparando seus empregos nas grandes rádios, você sentiu muita diferença no modo como cada uma delas lhe deu liberdade de ação?

HA - Em termos de liberdade, não vejo muitas diferenças. Trabalhei na CBN/Globo por sete anos, na Bandeirantes por 12 e estou desde setembro deste ano na Estadão ESPN. Não tive problemas sérios em relação a isso, mas, embora parecidas em alguns aspectos, cada emissora tem suas particularidades, sua linha editorial e seu ambiente de trabalho.

Há muitas semelhanças e algumas peculiaridades que diferenciam um pouco cada rádio. Em geral, as rotinas são parecidas, com algumas variações, dependendo da linha editorial. A Bandeirantes, por exemplo, era uma rádio que trabalhava mais a opinião.

CT - O que mais te encanta no rádio?

HA - A instantaneidade, o improviso, o “bom nervosismo” diante de um acontecimento importante que muda toda a programação e, principalmente, a proximidade com o ouvinte.

CT - Com a popularização da internet você acha que o rádio está perdendo um pouco do seu espaço, assim como aconteceu na época em que a TV foi inventada?

HA - É inegável que a audiência de hoje, comparada ao passado, diminuiu. Mas vejo isso como um desafio. Há espaço para o rádio conviver com outras mídias e até utilizá-las como ferramentas de apoio.

CT - Como você acredita que as novas mídias e tecnologias auxiliam no desenvolvimento do hábito de ouvir rádio? Você acha que elas aumentaram a audiência dos programas de rádio?

HA - Na medição feita pelo Ibope, que é a oficial, o método utilizado recorre à lembrança do ouvinte, com visitas domiciliares. Acho que isso precisa ser aperfeiçoado porque o resultado não é um retrato fiel da audiência. É preciso medir também o impacto de outras tecnologias. As rádios estão na internet, utilizam podcasts, ficaram mais interativas. Na prática diária, tenho contato com muitos ouvintes que estão na audiência pela internet. Rádio também é hábito e isso hoje é um pouco mais complicado do que no passado por causa das muitas opções e do consumo rápido das novas gerações, que são menos pacientes e fazem várias coisas ao mesmo tempo. Por um lado, isso é bom porque vira um desafio para os profissionais, como no caso do uso da linguagem. Por outro, pode ser ruim por gerar superficialidade. Sabe-se um pouco de tudo, mas sem profundidade.

CT - Você acredita que o futuro do rádio é ser cada vez mais digital e menos analógico?

HA - Aparentemente, sim. Mas o rádio digital está muito atrasado na escolha do modelo. A perda de audiência no AM é uma realidade. Por isso, emissoras jornalísticas do AM também estão no FM. Para os próximos anos, com a implantação total da TV Digital, estuda-se a possibilidade de o AM migrar para canais de FM que ficarão vagos. Mas não adianta apenas ter a tecnologia e não saber o que fazer com ela.

O rádio precisa ter uma abordagem adequada aos novos tempos para renovar a audiência sem perder o público que já é fiel ao veículo. Não acredito em soluções “salvadoras” e não tenho posições radicais. A tecnologia não é a salvação, mas também não representa o fim da essência. É preciso saber lidar com isso para aproveitar o que ela tem de melhor sem perder a essência do rádio. O desafio é esse.

CT - Como profissional e professor de rádio, quais são suas impressões de como o rádio está sendo feito hoje?

HA - As novas gerações têm muita informação, conhecem outras línguas e novas tecnologias, mas precisam de referências. Acho que o bom rádio também depende de uma mescla de profissionais de diferentes gerações. Falta investir mais no preparo das equipes e na apuração das notícias. O rádio precisa estar conectado ao mundo multimidiático, mas também deve ousar mais e não ficar apenas a reboque da repercussão de assuntos levantados por outras mídias.

CT - A concorrência entre rádios hoje está cada vez mais acirrada, existem técnicas para se manter uma boa audiência?

HA - Não sou dono da verdade e não acredito em receitas prontas de sucesso, mas penso que fazer o que eu disse acima é um bom caminho para conquistar e manter a audiência. É uma batalha diária, na qual as “armas” devem ser o profissionalismo, a técnica, a sinceridade, a ética e, acima de tudo, o respeito ao ouvinte.

Não gosto de pensamentos e atitudes imediatistas. Não adiantar soltar fogos quando a audiência sobe e entrar em depressão quando ela cai. O importante é ter um caminho seguro e saber superar os obstáculos e os desvios de rota, que são inevitáveis num mercado tão competitivo.

CT - Há mercado para futuros profissionais?

HA - Sim, para quem se prepara para isso, gosta do que faz, tem respeito pelo ouvinte e pela história do veículo e de profissionais que devem ser vistos como referência para as novas gerações.

CT - Que conselhos você daria para se fazer uma boa escolha de pauta?

HA - Ser “menos jornalista” e “mais cidadão”. Jornalistas, às vezes, acham que sabem o que é mais importante para os outros, mas devem ouvir mais as pessoas.

CT - Como professor de rádio quais são regras básicas para alguém que esteja começando na área e que queira desenvolver um programa.

HA - Acho que as duas orientações anteriores podem ser um bom começo. O importante é conhecer todo o processo. Para ser um bom profissional, é preciso saber o que o seu colega está fazendo e respeitar o trabalho dele. Para fazer um bom trabalho, é importante conhecer o rádio como um todo, as várias funções que nele são desempenhadas e as necessidades do público. Espero ter colaborado, mas repito que não acredito em receitas prontinhas. Nem nas minhas.