Entrevistamos o jornalista e
radialista da rádio Estadão-ESPN Haisem Abaki que nos contou um pouquinho sobre
sua vida no rádio e suas opiniões sobre o rádio e a tecnologia.
Natural de Mogi das Cruzes, Haisem estudou
jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes. Foi apresentador e chefe na
Rádio Bandeirantes, repórter, apresentador e editor na rádio CBN e também na
rádio e no jornal Diário de Mogi. Atualmente leciona na UMC e trabalha na rádio
Estadão-ESPN como apresentador do programa Estadão no Ar.
Cibertexto
- Como você se interessou por rádio?
Haisem
Abaki - Comecei a
ouvir rádio ainda criança, com meu pai. No começo, não entendia muito bem as
notícias que ele ouvia, mas aos poucos fui me interessando e fiquei fascinado
ao pensar como alguém podia falar ali.
CT
- No início, você achava que seria só por diversão ou sempre pensou em fazer
pra valer, profissionalmente?
HA - Acho que um pouco das duas
coisas, mas eu não tinha a noção exata do resultado.
Queria apenas fazer rádio
e aprender com pessoas que estavam na profissão há mais tempo e me serviam como
referências.
CT
- Como foi o início da sua carreira acadêmica e profissional?
HA - Comecei a trabalhar aos 15 anos,
primeiro como office-boy e depois trabalhei no Judiciário como escrevente. Meu
primeiro emprego em jornalismo foi aos 22 anos, em 1986, no último ano da
faculdade na UMC. Meu professor de rádio, Nivaldo Marangoni, era gerente da
Rádio Diário de Mogi e percebeu o meu interesse pelo rádio. No começo, fui lá
para conhecer e fiquei acompanhando o trabalho. Pouco tempo depois surgiu uma
vaga e, na mesma época, o jornal Diário de Mogi precisava de um repórter. Fiz
um teste no jornal e passei. Então, comecei a fazer rádio e jornal ao mesmo
tempo.
CT
- Comparando seus empregos nas grandes rádios, você sentiu muita diferença no modo
como cada uma delas lhe deu liberdade de ação?
HA - Em termos de liberdade, não vejo
muitas diferenças. Trabalhei na CBN/Globo por sete anos, na Bandeirantes por 12
e estou desde setembro deste ano na Estadão ESPN. Não tive problemas sérios em
relação a isso, mas, embora parecidas em alguns aspectos, cada emissora tem
suas particularidades, sua linha editorial e seu ambiente de trabalho.
Há
muitas semelhanças e algumas peculiaridades que diferenciam um pouco cada
rádio. Em geral, as rotinas são parecidas, com algumas variações, dependendo da
linha editorial. A Bandeirantes, por exemplo, era uma rádio que trabalhava mais
a opinião.
CT
- O que mais te encanta no rádio?
HA - A instantaneidade, o improviso, o
“bom nervosismo” diante de um acontecimento importante que muda toda a
programação e, principalmente, a proximidade com o ouvinte.
CT
- Com a popularização da internet você acha que o rádio está perdendo um pouco
do seu espaço, assim como aconteceu na época em que a TV foi inventada?
HA - É inegável que a audiência de
hoje, comparada ao passado, diminuiu. Mas vejo isso como um desafio. Há espaço
para o rádio conviver com outras mídias e até utilizá-las como ferramentas de
apoio.
CT
- Como você acredita que as novas mídias e tecnologias auxiliam no desenvolvimento
do hábito de ouvir rádio? Você acha que elas aumentaram a audiência dos
programas de rádio?
HA - Na medição feita pelo Ibope, que
é a oficial, o método utilizado recorre à lembrança do ouvinte, com visitas
domiciliares. Acho que isso precisa ser aperfeiçoado porque o resultado não é
um retrato fiel da audiência. É preciso medir também o impacto de outras
tecnologias. As rádios estão na internet, utilizam podcasts, ficaram mais
interativas. Na prática diária, tenho contato com muitos ouvintes que estão na
audiência pela internet. Rádio também é hábito e isso hoje é um pouco mais
complicado do que no passado por causa das muitas opções e do consumo rápido
das novas gerações, que são menos pacientes e fazem várias coisas ao mesmo
tempo. Por um lado, isso é bom porque vira um desafio para os profissionais,
como no caso do uso da linguagem. Por outro, pode ser ruim por gerar
superficialidade. Sabe-se um pouco de tudo, mas sem profundidade.
CT
- Você acredita que o futuro do rádio é ser cada vez mais digital e menos
analógico?
HA - Aparentemente, sim. Mas o rádio
digital está muito atrasado na escolha do modelo. A perda de audiência no AM é
uma realidade. Por isso, emissoras jornalísticas do AM também estão no FM. Para
os próximos anos, com a implantação total da TV Digital, estuda-se a
possibilidade de o AM migrar para canais de FM que ficarão vagos. Mas não
adianta apenas ter a tecnologia e não saber o que fazer com ela.
O rádio
precisa ter uma abordagem adequada aos novos tempos para renovar a audiência
sem perder o público que já é fiel ao veículo. Não acredito em soluções
“salvadoras” e não tenho posições radicais. A tecnologia não é a salvação, mas
também não representa o fim da essência. É preciso saber lidar com isso para
aproveitar o que ela tem de melhor sem perder a essência do rádio. O desafio é
esse.
CT
- Como profissional e professor de rádio, quais são suas impressões de como o
rádio está sendo feito hoje?
HA - As novas gerações têm muita
informação, conhecem outras línguas e novas tecnologias, mas precisam de
referências. Acho que o bom rádio também depende de uma mescla de profissionais
de diferentes gerações. Falta investir mais no preparo das equipes e na apuração
das notícias. O rádio precisa estar conectado ao mundo multimidiático, mas
também deve ousar mais e não ficar apenas a reboque da repercussão de assuntos
levantados por outras mídias.
CT
- A concorrência entre rádios hoje está cada vez mais acirrada, existem
técnicas para se manter uma boa audiência?
HA - Não sou dono da verdade e não
acredito em receitas prontas de sucesso, mas penso que fazer o que eu disse
acima é um bom caminho para conquistar e manter a audiência. É uma batalha
diária, na qual as “armas” devem ser o profissionalismo, a técnica, a
sinceridade, a ética e, acima de tudo, o respeito ao ouvinte.
Não gosto de
pensamentos e atitudes imediatistas. Não adiantar soltar fogos quando a
audiência sobe e entrar em depressão quando ela cai. O importante é ter um
caminho seguro e saber superar os obstáculos e os desvios de rota, que são
inevitáveis num mercado tão competitivo.
CT
- Há mercado para futuros profissionais?
HA - Sim, para quem se prepara para
isso, gosta do que faz, tem respeito pelo ouvinte e pela história do veículo e
de profissionais que devem ser vistos como referência para as novas gerações.
CT
- Que conselhos você daria para se fazer uma boa escolha de pauta?
HA - Ser “menos jornalista” e “mais
cidadão”. Jornalistas, às vezes, acham que sabem o que é mais importante para
os outros, mas devem ouvir mais as pessoas.
CT
- Como professor de rádio quais são regras básicas para alguém que esteja começando
na área e que queira desenvolver um programa.
HA - Acho que as duas orientações anteriores podem ser um bom começo. O importante é conhecer todo o processo. Para ser um bom profissional, é preciso saber o que o seu colega está fazendo e respeitar o trabalho dele. Para fazer um bom trabalho, é importante conhecer o rádio como um todo, as várias funções que nele são desempenhadas e as necessidades do público. Espero ter colaborado, mas repito que não acredito em receitas prontinhas. Nem nas minhas.